Professores


Por dentro do cérebro
Postado por Tory Oliveira em 21 de março de 2013 (11:08) na categoria Carta Fundamental

entrevista_neuro Responsável por curso de formação em Neuroeducação, Alfred Sholl-Fran co defende interação entre neurociência, ciências cognitivas e educação como forma de melhorar o aprendizado. Foto: Dario de Dominicis
Duas vezes por ano, turmas de educadores se reúnem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para aprender conceitos oriundos da neurociência e das ciências cognitivas. O objetivo do curso, segundo o coordenador Alfred Sholl-Franco, é discutir como esses conhecimentos multidisciplinares podem ajudar a compreender melhor os processos de ensino-aprendizagem que acontecem na sala de aula. Doutor em Ciências Biológicas, Sholl-Franco, 41 anos, é também coordenador do Núcleo de Divulgação Científica e Ensino de Neurociência,Ciências e Cognição (CeC-NuDCEN) da UFRJ, responsável pela promoção do curso de formação continuada em Neuroeducação.
A Carta Fundamental, o especialista conta o que é neuroeducação, alerta para as deturpações no campo e explica como os conhecimentos em neurociência se relacionam com as teorias educacionais tradicionais.
Carta Fundamental: O que é neuroeducação?
Alfred Sholl-Franco: A neuroeducação é uma área de estudo que trabalha com a interação entre a ciência cognitiva, a neurociência e a educação. Desde 2004, a sociedade internacional, que é chamada de International Mind, Brain, and Education Society (Imbes), tenta entender melhor como essas grandes áreas podem contribuir para melhorar a educação. O que muitos acreditam ser apenas a neurociência ajudando a educação é na verdade um trabalho conjunto, multidisciplinar, que visa promover um melhor desenvolvimento dos recursos educacionais, tanto no que diz respeito aos processos do desenvolvimento normal quanto daqueles relacionados às falhas do desenvolvimento, problemas ou patologias. Aí se incluem também quadros patológicos que afetam o ensino-aprendizagem e a própria relação aluno-ambiente, como autismo, distúrbios de aprendizagem. O interesse maior da neuroeducação é proporcionar um melhor entendimento dos processos de ensino e de aprendizagem. Conhecendo esses processos, é possível promover sua melhora e facilitar não
só o processo de aprendizagem para os alunos, mas também o processo de ensino para os docentes. É uma coisa que não deve ficar restrita à comunidade acadêmica.
CF: Então se trata de uma área nova do conhecimento?
ASF: É uma área nova, por isso também sujeita a deturpações e oportunismos. Como apresentar
uma cura para tudo ou colocar muitos comportamentos como doenças. A neuroeducação é um campo emergente e está sujeito a apropriações, esse é o grande perigo e o grande destaque que eu gostaria de fazer. Muitos estão usando esse termo neuroeducação para se aproveitar e divulgar métodos extraordinários, facilidades para aprendizado e assim por diante, o que na maior parte das vezes não é verdade.
CF: Como esse conhecimento pode ajudar um professor a trabalhar em sala de aula?
ASF: O principal ganho na convergência dos conhecimentos oriundos da área de ciências cognitivas, da neurociência e da própria educação tem sido entender melhor os processos de aprendizagem, da memória,da aquisição da linguagem e até dos ciclos biológicos, como o período de sono. O conhecimento desses fenômenos facilita uma melhor exploração do processo de ensino-aprendizagem. A aquisição de conhecimentos pelos estudantes será melhor nse quem estiver transmitindo esses conhecimentos entender como o sistema está preparado para absorvê-los. Conhecer esses processos cognitivos e físicos de desenvolvimento de crianças, jovens e adultos favorece tanto o processo de transmissão do conhecimento quanto o entendimento de como aquela mente que está recebendo as informações irá trabalhá-las.
CF: Então o conhecimento desses processos favorece o professor?
ASF: Não só o professor, mas também o coordenador pedagógico, o diretor, todos que estão relacionados com o processo de ensinoaprendizagem.O ato de aprender está relacionado às modificações no sistema nervoso decorrentes de sua exposição a novas informações e ao modo como trabalhamos o conhecimento que já possuímos, o que fazemos não apenas no ambiente escolar.
CF: De que forma os conhecimentos da neurociência e das ciências cognitivas se relacionam
com as teorias da educação?
ASF: Antigamente, todos aqueles cuja graduação estava envolvida com docência aprendiam os teóricos da educação, como Piaget e vários outros. Pelo trabalho conjunto de educadores e neurocientistas e dessa visão multidisciplinar que caracteriza a neuroeducação, é possível discutir as teorias sob um olhar mais amplo. Um exemplo da aplicação é a escola de desenvolvimento piagetiana que relaciona determinados comportamentos a idades estabelecidas. Hoje em dia temos trabalhos da área de educação que confirmam dados neurobiológicos, que precisavam de um paralelo funcional, enquanto muitos dados neurobiológicos explicam fenômenos observados inicialmente em um contexto apenas educacional.
CF: Quais avanços ou descobertas da neurociência estão ligados ao processo de ensino-aprendizagem?
ASF: Atualmente existem vários estudos que ampliam o conhecimento de dificuldades de aprendizagem como discalculia, a dislexia e outros processos englobados dentro dos distúrbios de aprendizagem, como também o autismo e o TDAH. No caso do TDAH em particular, eu tenho um aluno que faz um estudo entre exergames, jogos como o Wii e o Kinect, que trabalham com o movimento corporal. Existem estudos que mostram que o trabalho físico coordenado com o trabalho mental leva a uma melhora cognitiva, uma melhora de aprendizado. Na verdade, no caso desse estudo em particular, como a criança tem de fazer uma relação entre o trabalho de corpo e tarefas exigidas, dados preliminares mostram que há uma melhora no tempo de reação, que bé o tempo que a pessoa leva para apresentar uma resposta a um estímulo sensorial. A criança com TDAH tende a se dispersar mais e a não se concentrar no objeto que ela está observando. A prática regular desses
jogos mostrou uma melhora no desempenho do tempo de reação e da atenção. Essa é uma maneira de você aplicar esse conhecimento como um coadjuvante na melhora atencional dessas crianças.
CF: De que forma os professores de Educação Infantil poderiam aproveitar melhor os conhecimentos da neurociência em sala de aula? Quais conhecimentos são importantes?
ASF: Principalmente os estágios de desenvolvimento motor e cognitivo. Por exemplo, não adianta eu querer algo acima do que o sistema pode comportar. Ou seja, não adianta entulhar o aluno de informações. Ao mesmo tempo, é preciso saber que todos nós somos ávidos por informação. Costumo dizer que uma criança tem 12 olhos: dois olhos mais dez dedos. Só o olhar não basta, tem de sentir, tem de construir novos circuitos cerebrais que representem essas. Então não basta para uma criança só ver um objeto. Os sensoriais – tocar, cheirar – são muito importantes. Se eu sei dessa necessidade do sistema por informações e eu preciso cumprir o currículo, como explorar melhor? Por exemplo, se vou falar de cores na Educação Infantil, posso levar frutos de cores diferentes, que servirão para as crianças apalparem, sentirem seu cheiro. Se o professor de Educação Infantil conhece melhor a mente e o desenvolvimento dos processos cognitivos das cria nças, ele poderá aproveitar melhor as ferramentas com as quais poderá passar essas informações.
CF: A formação atual recebida pelos professores contempla de alguma forma os últimos conhecimentos sobre a neurociência?
ASF: Não. Na maior parte das vezes, o que temos de maneira muito fraca são disciplinas de fisiologia ou de anatomia e fisiologia, que são ministradas de forma fragmentada, o que não permite a aplicação desses conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem. Mas é uma tendência agora. Estamos iniciando na UFRJ, na USP, na UFRG e na UFRN. Pontualmente, temos grupos fazendo esse tipo de trabalho, partindo da formação de novos profissionais que sairão para o mercado de trabalho. Mas não basta introduziresse tipo de conhecimento para as pessoas que vão entrar no mercado de trabalho. Por isso criamos o curso de formação continuada em neuroeducação, que não existe em outro lugar do Brasil. Nosso objetivo é pegar profissionais que já estão em sala de aula e proporcionar a eles uma forma de se prepararem melhor para o desafio que é o processo de ensino-aprendizagem.
CF: As descobertas da neurociência têm sido levadas em conta na formulação de políticas públicas de educação?
ASF: Nós temos um problema geral, que foi colocado para o público pela mídia e pelo governo, que é a questão da pontuação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Isso expôs um problema que já existe há muito tempo. Se analisar as notas do Ideb do Brasil inteiro, por região e pegar o Rio de Janeiro em particular, você perceberá que o Rio tinha um nível muito baixo. De cinco anos para cá, o governo tem valorizado mais e se aplicado mais no processo de levar conhecimentos e informações da academia para as escolas. É uma preocupação muito forte. No Rio temos tido um investimento significativo.
CF: Como funciona o curso de neuroeducação que o senhor ministra para educadores?
ASF: O curso de formação continuada ocorre duas vezes por ano, sempre em janeiro e julho. Em Belford Roxo (RJ) temos também minicursos de formação continuada. Começamos o curso explicando o que é  neuroeducação, como a neurociência e as ciências cognitivas podem contribuir com a educação. Em seguida, estudamos o desenvolvimento do sistema nervoso e assim eles descobrem, por exemplo, as etapas do desenvolvimento motor, sensorial, cognitivo. Depois vamos para os estudos dos sensoriais, que são as portas de entrada da informação em nosso sistema, e depois para os sistemas motores. Nos sistemas motores, falamos do desenvolvimento motor da infância até a velhice e abordamos também as respostas autônomas do organismo. Em seguida, vamos para os processos de aprendizagem e de formação de memória. Todas as aulas são compostas de teoria e prática, isso torna o curso dinâmico. No quarto dia, abordamos os processos de linguagem e os distúrbios de aprendizagem. No último dia, fechamos com os ciclos biológicos, a importância do sono, o processo de fixação de memória durante o sono etc. O curso se encerra com o desenvolvimento de novas atividades práticas pelo participante. Uma coisa interessante é que 70% do nosso público é formado por profissionais da escola pública. A grande demanda tem vindo de lá.


fonte Carta Capital - http://www.cartacapital.com.br
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A ontogênese e o aprender
Fernando Reinach
O Estado de S.Paulo - 11 de abril de 2013


O uso da palavra aprender não acompanhou o progresso científico. O resultado é que ainda usamos a mesma palavra para descrever dois fenômenos distintos. Considere a seguinte frase: "Meu filho aprendeu a andar com 1 ano e aprendeu a escrever com 6". Esses dois processos, descritos como "aprender", são fenômenos muito diferentes. Não reconhecer essa diferença atrapalha nossa concepção de educação.

Todas as pessoas, de qualquer origem, nascidas em qualquer sociedade nos últimos milhares de séculos, começaram a andar na infância. Por outro lado, somente uma pequena fração das pessoas sabe escrever - e essa capacidade apareceu entre os humanos faz alguns milhares de anos. A razão é simples e conhecida dos biólogos há muito tempo. Andar faz parte de nossa ontogênese; escrever faz parte de nossa herança cultural.

Ontogênese é o nome dado ao processo de formação de um ser vivo. Descreve a transformação de uma semente em árvore ou o surgimento de uma pessoa a partir de um óvulo fecundado. Inicialmente, o conceito de ontogênese era usado para descrever as mudanças de forma durante o desenvolvimento de um ser vivo. Descrevia a formação da espinha vertebral, do coração, o aparecimento dos dedos, o crescimento do cabelo, e todas as mudanças que ocorrem antes do nascimento. Mas o processo de ontogênese continua após o nascimento. O corpo cresce, atingimos a maturidade sexual, paramos de crescer e finalmente começamos a envelhecer. São as etapas inevitáveis de nossa ontogênese.

A ontogênese se caracteriza por uma sequência de eventos que ocorrem de maneira precisa e semelhante em todos os seres vivos de uma espécie. Ela é determinada por nossos genes e modulada pelo meio ambiente. Todas as crianças crescem, mas, se bem alimentadas, crescem mais rápido.

Não é usual utilizarmos a palavra aprender para descrever processos que fazem parte da ontogênese. É por isso que afirmar que "minha filha aprendeu a menstruar aos 13 anos" soa estranho. Ao longo de todo o século XX houve uma melhor compreensão dos processos que fazem parte de nossa ontogênese e se descobriu que um número crescente de etapas pelas quais passamos durante a vida é parte de nossa ontogênese.

É o caso do andar e do falar, cujos aparecimentos estão codificados em nossos genes da mesma maneira que a capacidade de crescer pelos pubianos. É muito difícil, e é necessário um ambiente muito hostil, para evitar que uma criança desenvolva o andar e a capacidade de falar. No caso da fala, sabemos que a língua que a pessoa vai utilizar depende unicamente do ambiente ao qual ela está exposta, mas o surgimento, nos primeiros anos, da capacidade de falar alguma língua faz parte de nossa ontogênese.

Aos poucos, os cientistas descobriram que um número crescente de características que desenvolvemos em alguma fase de nossa vida faz parte de nossa ontogenia. Hoje sabemos que nascemos com a capacidade de fazer adições e subtrações de pequenos números (até três ou quatro). Sabemos que parte de nossa capacidade de julgamento moral, de convivência social, de comunicação por meio de expressões faciais e inúmeras outras características comportamentais também fazem parte de nosso processo ontogenético.

Nossa ontogênese surgiu à medida que nossa espécie e a de nossos ancestrais foi moldada pelo processo de seleção natural. Cada etapa e cada característica de nossa ontogênese foram incorporadas ao longo de milhões de anos e agora fazem parte das características de nossa espécie. O surgimento de um dedo durante nossa vida no útero e de nossa capacidade de somar números pequenos ao nascer é o resultado de um único e longo processo de seleção natural. É por isso que essas capacidades surgem aparentemente de forma espontânea durante as diferentes fases de nossa vida. Como são programadas para ocorrer, seu aparecimento é difícil de ser evitado e, caso seu aparecimento seja inibidos violentamente, as consequências podem ser nefastas para o indivíduo.

A distinção entre esses dois fenômenos seria mais fácil se a palavra aprender fosse restrita à aquisição de novas características e habilidades que não fazem parte de nosso processo ontogenético. Fazer operações matemáticas com números grandes, escrever, andar de bicicleta, calcular a órbita de um satélite e programar um computador são capacidades que podemos adquirir porque nosso corpo e cérebro têm a flexibilidade para incorporar novos comportamentos e conhecimentos, mas não foram moldadas pela seleção natural nem incorporadas à nossa ontogênese.

Essas habilidades foram descobertas muito recentemente pelo homem e derivam da evolução cultural. Esses aprendizados podem ser incluídos no repertório de cada um de nós de maneira opcional, num processo que chamamos de educação. E, como todos sabemos, sua incorporação depende de um grande esforço e dedicação de quem ensina e de quem aprende, leva um longo tempo e consome muita energia dos indivíduos e da sociedade.

Reconhecer as mudanças que fazem parte de nossa ontogênese e separar e cultivar de maneira distinta as mudanças ontogenéticas das induzidas pelo processo educacional podem gerar seres humanos mais felizes. Mas para isso não podemos confundir os dois fenômenos que hoje chamamos de "aprender".
MAIS INFORMAÇÕES: NO CLÁSSICO ONTHOLOGY AND PHYLOGENY DE STEPHEN JAY GOULD, HARWARD UNIVERISTY PRESS, 1977.

Texto sugerido por Luís Camargo em 13/04/2013


Letras soltas

Professora,
Antigamente era costume dar folhas para os alunos preencherem com letras soltas: A - A - A... Muitas vezes, com letra cursiva. Se a gente procurar conhecer um pouco a história da escrita, vai perceber que o ser humano inventou a letra maiúscula, depois a minúscula e que a cursiva foi a última que apareceu. De fato, ao escrever depressa as letras minúsculas, aos poucos elas vão tomando a forma da cursiva.
O que a escola fazia antigamente era ir contra o processo mais natural, aquele que o ser humano seguiu.
Aprende-se a escrever, escrevendo. Assim como as crianças aprendem a falar, falando. Inicialmente, alguns fonemas significam todo um enunciado: AUA, por exemplo, pode significar QUERO ÁGUA. Desde que a criança começa a utilizar o balbucio, não só pelo prazer de balbuciar, mas para se comunicar, ela usa fonemas que sugerem palavras, que sugerem enunciados.
Então, por que ainda hoje se insiste em fazer as crianças encherem folhas de papel com letras soltas?
Além de ensinar a escrever, a professora também precisa ensinar que ler e escrever é importante. E como fazer isso? Criando situações em que a criança perceba que a leitura e a escrita são alimento para sua curiosidade, para sua sensibilidade e para seu ludismo.
Histórias, poemas e canções são alimento para a imaginação, despertam emoções, portanto, enriquecem a vida interior.
Textos informativos alimentam e incentivam a curiosidade.
Canções, poemas e histórias podem fazer parte de brincadeiras, como as cantigas de roda, ou podem incentivar brincadeiras.
Por isso, parece mais estimulante aprender as letras quando elas fazem parte de palavras-chave e quando essas palavras aparecem em poemas, canções e histórias.
As postagens com título em letras maiúsculas foram feitas especialmente para alunos da educação infantil, para alunos do 1o ano e para alunos de outros anos que ainda têm dificuldades de leitura e escrita.
As "dicas para o mediador de leitura" são sugestões para incentivar a observação das figuras - fotografias, desenhos, pinturas, mapas -, dicas para desenvolver a consciência fonológica, o raciocínio matemático, além de informações sobre ciências naturais, história, geografia (Natureza e sociedade, na educação infantil) e artes.
Em outra postagem falarei sobre a consciência fonológica.
abraço,
Luís

Consciência fonológica

Professora,
Tentar alfabetizar crianças que não conseguem identificar a quantidade de sílabas ("pedacinhos") de uma palavra, que não identificam a sílaba inicial e que não identificam rimas é perda de tempo. A alfabetização envolve a criação de relações entre fonemas (sons) e letras (sinais visuais). Por isso, sem uma boa percepção dos sons das palavras, esse trabalho é muito difícil.
A percepção de que as palavras são compostas de sílabas, que estas são compostas de fonemas, que várias palavras podem ter final ou começo semelhante e de que os enunciados são compostos de palavras - tudo isso compõe a consciência fonológica.

Na educação infantil, ao mesmo tempo que ensina o nome das letras (inicialmente as vogais, depois as consoantes), é importante que a professora crie situações para desenvolver a consciência fonológica dos alunos.
Geralmente as professoras dedicam-se ao ensino das letras, à cópia de letras soltas e à cópia de palavras curtas com sílabas simples.
Antes que as crianças tenham desenvolvido bem a consciência fonológica, tanto faz palavras curtas ou compridas, com sílabas simples ou não, porque as crianças memorizam a configuração global da palavra. É por esse motivo que, ao escrever o nome - a primeira palavra que as crianças costumam escrever - é comum a falta de letras e letras fora de ordem.
Há muitos anos, quando trabalhei com crianças de educação infantil, percebi que elas identificavam rimas, que brincavam com rimas e que eram capazes de identificar a quantidade de sílabas das palavras, embora sem usar o termo "sílaba".
Nos últimos dois anos, descobri outras capacidades, como a capacidade de perceber palavras dentro de palavras, por exemplo, "mão" em "irmão", "limão" e "mamão".
abraço,
Luís
  
Rima

Professora,
Espera-se que, em algum ano do ensino fundamental, os alunos tenham a noção de que rima é a semelhança sonora, no final das palavras, a partir da vogal da sílaba tônica. Essa semelhança pode ser de vogais e consoantes, como ocorre nas palavras CANSADO e FERIADO, ou pode ser apenas das vogais, como ocorre em BRANCO e CAMPO.
Cecília Meireles combinou maravilhosamente estes dois tipos de rima no poema “O cavalinho branco”, do livro Ou isto ou aquilo. Leia as duas primeiras estrofes do poema:

À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.

Na educação infantil, porém, basta que os alunos tenham a noção de que a rima é a semelhança sonora no final das palavras. No início, não se deve usar termos literários como rima. É preferível começar por noções mais próximas do cotidiano, como, por exemplo, a noção de combinar. Mais fácil do que dizer uma palavra que rima com outra é avaliar, entre duas palavras, qual a que rima com uma terceira. Por isso, sugiro que o trabalho com rima na educação infantil inicie por perguntas do tipo “O final da palavra ELEFANTE combina mais com o final da palavra ALUNO ou com o final da palavra ESTUDANTE?”
Depois de um semestre identificando palavras cujo final combina mais com o final de outras, pode-se introduzir os termos rima e rimar. Inicialmente, alternando as noções de combinar e os termos rima e rimar. À medida em que os alunos familiarizarem-se com esses novos termos pode-se ir abandonando a noção de combinar.
Uma noção mais precisa de rima só será possível quando os alunos identificarem a sílaba tônica das palavras com facilidade, o que não costuma acontecer na educação infantil.
Neste trabalho privilegiamos a percepção da rima, mais do que seu conceito.
Além de perceber rimas, os alunos também podem criar rimas, por exemplo, a partir dos seus nomes.
abraço,
Luís  

2 comentários:

  1. Luís Camargo você é o escritor e ilustrador do livro Maneco Caneco chapéu de funil? abraços

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